terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo III


Enquanto isso, haviam contratado outro funcionário para substituir-me na empresa. Alguns estavam felizes com isso outros nem tanto, ainda sofriam com a minha situação. Foi então que notei que eu ainda não havia sido dado como defunto, estava deitado numa cama de hospital em coma. Queria saber desde quando estava lá. Como não havia tomado a minha decisão comecei a me observar constantemente. Notei a presença de uma pessoa, a única visita que recebia, mas pensei deve ser a enfermeira. Passei a desviar minha atenção para aquela pessoa, havia algo mais nela que simplesmente uma enfermeira. Carinhosamente ela se aproximava de meu leito frio, apossava-se de minhas mãos, chorava um pouco, clamava por Deus e orava por horas. Tentei me lembrar se tinha alguém que seria capaz de fazer tal caridade por mim, visto que sempre fui muito só.
De onde eu estava não se conseguia definir as feições do rosto daquela criatura divina, pois tal atitude só pode vir de Deus. Fazia algum tempo que Áurea não falava comigo, certamente estaria em sua dura rotina de receber os possíveis mortos ou vivos (ainda não tenho bem claro essa situação); sei que não tardaria muito o seu retorno, mas nem me importava mais, estava engajado em descobrir quem era a pessoa que velava meu sono e que pedia por minha melhora.
Tentei aproximar do meu corpo, e quem sabe encontrar com meu anjo. Uma força me impedia de realizar tais movimentos, mas a vontade era tamanha que provoquei algum desequilíbrio naquela dimensão. Durante milésimos de segundos vi passar diante de meus olhos dois mundos totalmente antagônicos. Também senti uma energia assustadora colocando ordem na bagunça que causei. Fiquei com muito medo e me escondi por dias, eu acho.

Capítulo II


II
Havia algum tempo que estava descontente com a minha vida sem graça. O fato de encontrar-me com Áurea abriu uma janela enorme, porém aceitar que estou morto ou querer estar morto para encontrar e viver no desconhecimento provoca-me muitas dúvidas. Como poderei “trocar o certo pelo incerto”, mesmo estando cansado da rotina? Sabia que deveria fazer uma escolha, a qual mudaria toda minha vida, ou minha morte? Nossa quanta confusão, tenho que morrer para nascer ou nascer para morrer? As dúvidas aumentavam ainda mais. Nesse emaranhado de pensamentos lembrei-me de um texto de meu amigo José Carlos, era algo mais ou menos assim:
“Às vezes, a Beleza é o demônio disfarçado de anjo
Se você a seguir cairá nas trevas
Num labirinto vencido por poucos
Se o caminho era difícil enquanto simples mortal
Não faz idéia como ficará pior
A saga do sonhador está apenas começando
Palavras doces podem te levar ao inferno
A facilidade momentânea pode ser o caminho mais gostoso
Mas, não se esqueça que a eternidade é muito mais longa que alguns anos terrestres
Siga o “carpe diem” e viverás na “áurea mediocritas”
A efemeridade eufemizada pode te levar a uma encruzilhada
Basta fazer a escolha certa                                                                                 
A sua Vida não precisa terminar com sua Morte
O sofrimento também tem seu lado positivo
Aprenda com ele, mesmo que tente evitá-lo
Olhe com os olhos da fé e tudo verás
Seja coletivo na individualidade
Faça de sua experiência aprendizagem ao próximo
Estenda a mão não para aqueles que estão de pé
Mas para aqueles que precisam
 Lembre-se “muitos são os chamados, poucos são os escolhidos”.”

Sinceramente não sei porque fui lembrar de tal texto, isso confundiu-me mais, pois agora eu questionava a beleza e bondade de Áurea. Será que eu tinha esse direito e audácia em questionar a reputação de um ser tão místico e iluminado? Se tenho ou não, sei que questionei. As palavras do poema expressavam muito mais que podemos imaginar, até parece que foi enviada de propósito. Mas quem faria isso? Por quê? Penso, será que realmente desfaleci, ou sou um louco procurando sanidade na loucura?
A poucos metros eu via Áurea estendendo a mão em minha direção convidando-me a entrar naquela dimensão. A claridade era tamanha, dava a impressão de ser um portal como aqueles que há nos filmes de ficção científica. Era tudo muito mágico e belo, mas a frase “Às vezes, a Beleza é o demônio disfarçado de anjo”, relutava em permanecer em meus pensamentos. Sentia-me cativo à Áurea e extremamente envolvido por ela. Minhas pernas impulsionava-me ao encontro daquele portal. A tomada de decisão teria que ser rápida.o medo do novo era horrendo, o eixo das possibilidades e das condicionalidades corria como sangue em minhas veias.
Áurea notou meu desespero e veio confortar-me, ela sabia que era uma encruzilhada e que a escolha certa traria muitos benefícios, mas qual era a escolha certa. Estava tudo acontecendo de maneira muito simples. Eu tinha que questionar, sempre soube que nada vem de graça. Será que eu era o escolhido ou todos passam por isso? Por que não tinha mais ninguém, se sei que morre pessoas a todo instante? Criei coragem, segurei minhas pernas e resolvi encontrar algumas respostas. Chamei Áurea para próximo de mim e verbalizei todos os pensamentos que acabara de ter. Numa fração de segundos senti hostilidade nos olhos de Áurea. Ela aproximou de mim e toda serena tentava aquietar meu coração. Não sei quantificar em horas o quanto durou nossa conversa.

Devaneios


I
Aconteceu no tempo em que os dias eram gloriosos e cheios de alegrias. Surgiu na Terra um imensurável ser provocando nostalgia. A escuridão sucumbiu com toda luz e instaurou-se o mundo das trevas. Muitos foram os anos em que o planeta sofreu na escuridão.
Os seres vivos perambulavam perdidos na penumbra, onde sequer um resquício de luz era encontrado. Os animais noturnos reinaram e inconscientemente dominaram os poderosos humanos. A vida era simplesmente uma sucessão de noites sem esperança em que a inteligência humana dava lugar ao instinto animalesco. Respeito, cumplicidade, amor se tornaram palavras sem valor. Com o tempo até as palavras perderam sua utilidade, restando apenas grunhidos e gemidos. Não se pronunciava fonema algum que tivesse significado.
Em meio a todo o caos, havia uma pequena criança que nascida no início da escuridão, continha consigo habilidades secretas e uma áurea estonteante, mas por ser diferente não podia andar no meio dos outros. Em sua total solidão ela descobriu o segredo da escuridão e sabiamente pronunciou em um linguajar desconhecido algo como:
“Escuridão, o que vos queres de nós? Seu poder não é maior que o meu, pois sem a Luz vossa existência é insignificante. Vós sois um arremedo de punição, se pensas que reina soberana estais enganada, porque a Luz retorna a sua casa e diferentemente de tu, que és egoísta, a Luz te dará um período em que poderás aparecer, mas sempre vigiada pelos olhos da Lua. Pelo amanhecer viverás escondida admirando a vida que a Luz promove, enquanto tu a queres destruir. De agora em diante, serás a sombra e não reinarás em tempo algum.”
 Nesse instante, a criança toca algo estranho, provocando um estrondo. Todos assustados tentavam abrigar-se, no entanto, um forte vento expulsa a escuridão e o Sol que tanto dormia, levantou-se radiante. Todos os que se mantiveram íntegros puderam ver a Luz novamente ou pela primeira vez. Mas aqueles que se perderam na iniqüidade foram varridos da face da Terra.
TIC TAC, TIC TAC, TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM, soou o despertador e novamente acordei atrasado para mais um dia de trabalho. Nesse dia acordei com uma sensação estranha, confusa. Algo me incomodava, não sabia o que era, mas sabia que minha inquietude tinha algum fundamento. A sensação estranha acompanhou-me por toda a manhã. Eu não sabia se contava o sonho que tive, se resolvesse contar eu não tinha claro a sequência dos fatos e nem me recordo dos rostos que estavam presentes em meu sonho.    
Durante meu horário de almoço cochilei e fragmentos de meu sonho vinham a minha mente, porém ainda mais confusos. A tarde durou uma eternidade, não conseguia me concentrar no trabalho e nem no que meus companheiros diziam. Em minha cabeça vinham sempre os mesmos pensamentos. Algo em tudo aquilo me atraia e me hipnotizava.
Na noite seguinte, adormeci e nada aconteceu. Assim foram os dias posteriores, até que resolvi procurar uma pessoa que interpretasse aquele sonho. Foi nesta noite que adormeci mais cedo, e tudo voltou como no sonho anterior, porém não acordei mais deste sonho. A noite era minha única companheira. Estava muito confuso, preocupado com o trabalho com a minha rotineira vida. Não sabia se estava dormindo, se havia passado dias, meses, anos ou apenas horas. Apenas sei que estava ficando entediado, daí recordei da fala da menina. Como uma flecha, senti-me golpeado pela Luz, rapidamente olhei para o lado em que era irradiada toda aquela Luz e vi ao fundo a menina dos meus sonhos. Tinha uma expressão de cansada, a respiração ofegante, quase não podia mais caminhar. Fui ao encontro dela e a peguei nos braços, esperei que ela se recompusesse e despejei minhas dúvidas todas simultaneamente, pois estava cansado de estar naquele lugar. Angelicalmente, a menina pediu-me calma com seus olhos, eu atendi. Não sei explicar o porquê, mas ela exercia um grande poder sobre mim. 
Aos pouco percebi que não comia nem bebia há algum tempo, isso era apenas uma observação, pois fome e sede não se tinham por ali. A linda menina aos poucos recobrou suas forças e calmamente me explicou o que eu fazia naquele lugar. O estranho era que conversávamos num dialeto jamais ouvido, mas eu a compreendia. Foi nesse instante que descobri quem era aquela menina e qual era a sua função.
As palavras saiam de sua boca tão suave que nem percebi a escuridão desaparecer. Fascinado pela luz comecei a me beliscar para ter certeza que aquilo não era um sonho. No devaneio de minha sanidade não me importei com a notícia de que meu corpo se divorciara de minha alma. Que muitos choravam sobre meu corpo, até aqueles que nem me conhecia.
A menina chamava-se Áurea, sua função era recepcionar a todos que estavam na escuridão. Aqueles que escolhessem acompanhá-la estariam selando sua nova vida com a morte da anterior, no entanto, os que não aceitavam a transfiguração seriam julgados e se merecessem uma segunda chance regressariam ao seu corpo. Deves estar curioso em saber como é a nova vida na companhia de Áurea, mas serei obrigado a aguçar um pouco mais sua curiosidade e dizer que... continua no próximo capítulo. 

Desabafo amoroso

Olá, sabia que escrever para você é muito difícil. Não porque me corrigiria, mas porque as palavras somem, se escondem. Penso muito, porém tudo o que vem em minha mente não chega a um milésimo do que quero dizer. Já peguei uma folha de papel em branco por várias vezes e junto com a caneta tentei me expressar. Foram muitas tentativas sem sucesso. Não sei dizer se é porque não tenho criatividade, ou se as palavras se sentem intimidadas diante de tua beleza. Ou ainda se se acham insignificantes ou incapazes de se juntarem e formarem um texto lindo. Quero dizer tanta coisa, no entanto tropeço na imprecisão de meu inconsciente e acabo por não dizer nada. E, quando digo surtem efeito inesperado e desastroso. Penso nas palavras rebuscadas da literatura clássica, em textos perfeitos quanto ao conteúdo e seu lirismo. Mas para minha decepção não sai sequer uma frase bem formulada. Após muitas tentativas percebi que para falar o que eu quero não preciso de palavras complicadas, de tentar ser o que não sou, e sim preciso é de atitudes bonitas e de palavras simples como: “Bom dia, meu amor.”, “Você é linda, mas hoje se superou.”, “Te amo.”, “Te adoro.”, “Senti sua falta.”. E por aí vai...
Percebi que deveria escrever com a alma, com toda minha essência, só assim sairia do labirinto mórbido da ignorância. Para expressar sentimentos devo senti-los, para entender o amor devo amar, então conclui que para expressar com palavras devo obedecê-las e não dá ordens como sargento. Nesse instante, percebi que minha frieza me resumia ao nada, enquanto meu coração bombeava sensações prazerosas de amor. Todas elas para você, minha amada. O calor do amor destoa da frieza lógica que tentamos dar à vida. Entendi que devo ouvir no silêncio de meu coração a mais bela canção, e deixá-lo dizer o quanto tu és especial, é ser sábio. Por isso, quero que saiba vivi muitas experiências em minha vida, algumas boas outras ruins. Nenhuma se compara a você, pois tu estás acima de todas elas, assim como as divindades, reinas soberana em meu coração. Entretanto, peço-lhe perdão por todos os meus defeitos e permissão para que mesmo em minha humanidade frágil, desfrute de sua companhia.
Por fim, ou melhor, dando início a mais uma etapa da vida, quero externar minha eterna gratidão pelos ensinamentos, pelo carinho que dedicou a mim e por me ensinar amar. Sei que a felicidade estará sempre contigo, quando as nuvens negras se aproximarem serão apenas para se encantarem com sua beleza e tornarem nuvens brancas novamente. Tenho esperança de contribuir para que seu sorriso continue alegrando as pessoas que a rodeia e que o amor que sinto por ti mova as montanhas.
Nesse instante, dizer que te amo seria redundante. Então,que seja redundância: Te AMO...