terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo II


II
Havia algum tempo que estava descontente com a minha vida sem graça. O fato de encontrar-me com Áurea abriu uma janela enorme, porém aceitar que estou morto ou querer estar morto para encontrar e viver no desconhecimento provoca-me muitas dúvidas. Como poderei “trocar o certo pelo incerto”, mesmo estando cansado da rotina? Sabia que deveria fazer uma escolha, a qual mudaria toda minha vida, ou minha morte? Nossa quanta confusão, tenho que morrer para nascer ou nascer para morrer? As dúvidas aumentavam ainda mais. Nesse emaranhado de pensamentos lembrei-me de um texto de meu amigo José Carlos, era algo mais ou menos assim:
“Às vezes, a Beleza é o demônio disfarçado de anjo
Se você a seguir cairá nas trevas
Num labirinto vencido por poucos
Se o caminho era difícil enquanto simples mortal
Não faz idéia como ficará pior
A saga do sonhador está apenas começando
Palavras doces podem te levar ao inferno
A facilidade momentânea pode ser o caminho mais gostoso
Mas, não se esqueça que a eternidade é muito mais longa que alguns anos terrestres
Siga o “carpe diem” e viverás na “áurea mediocritas”
A efemeridade eufemizada pode te levar a uma encruzilhada
Basta fazer a escolha certa                                                                                 
A sua Vida não precisa terminar com sua Morte
O sofrimento também tem seu lado positivo
Aprenda com ele, mesmo que tente evitá-lo
Olhe com os olhos da fé e tudo verás
Seja coletivo na individualidade
Faça de sua experiência aprendizagem ao próximo
Estenda a mão não para aqueles que estão de pé
Mas para aqueles que precisam
 Lembre-se “muitos são os chamados, poucos são os escolhidos”.”

Sinceramente não sei porque fui lembrar de tal texto, isso confundiu-me mais, pois agora eu questionava a beleza e bondade de Áurea. Será que eu tinha esse direito e audácia em questionar a reputação de um ser tão místico e iluminado? Se tenho ou não, sei que questionei. As palavras do poema expressavam muito mais que podemos imaginar, até parece que foi enviada de propósito. Mas quem faria isso? Por quê? Penso, será que realmente desfaleci, ou sou um louco procurando sanidade na loucura?
A poucos metros eu via Áurea estendendo a mão em minha direção convidando-me a entrar naquela dimensão. A claridade era tamanha, dava a impressão de ser um portal como aqueles que há nos filmes de ficção científica. Era tudo muito mágico e belo, mas a frase “Às vezes, a Beleza é o demônio disfarçado de anjo”, relutava em permanecer em meus pensamentos. Sentia-me cativo à Áurea e extremamente envolvido por ela. Minhas pernas impulsionava-me ao encontro daquele portal. A tomada de decisão teria que ser rápida.o medo do novo era horrendo, o eixo das possibilidades e das condicionalidades corria como sangue em minhas veias.
Áurea notou meu desespero e veio confortar-me, ela sabia que era uma encruzilhada e que a escolha certa traria muitos benefícios, mas qual era a escolha certa. Estava tudo acontecendo de maneira muito simples. Eu tinha que questionar, sempre soube que nada vem de graça. Será que eu era o escolhido ou todos passam por isso? Por que não tinha mais ninguém, se sei que morre pessoas a todo instante? Criei coragem, segurei minhas pernas e resolvi encontrar algumas respostas. Chamei Áurea para próximo de mim e verbalizei todos os pensamentos que acabara de ter. Numa fração de segundos senti hostilidade nos olhos de Áurea. Ela aproximou de mim e toda serena tentava aquietar meu coração. Não sei quantificar em horas o quanto durou nossa conversa.

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